quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Curitiba 28.11.09 - Boletim de Bordo parte II



Vários amigos me pediram para relatar mais detalhes sobre o palco e o show em si, sendo assim, tentarei em breves linhas traçar uma "fotografia" do que foi a experiência de estar em Curitiba.
Reza a lenda, que Curitiba, por sua geografia e clima, por sua racionalidade no pensamento, seria um local de público de temperamento mais reservado. De antemão, não foi o que encontramos. A impressão que fica, é de um público muito receptivo e acostumado ao rock e a música experimental, independente da idade.  A platéia apresentava-se completamente heterogênea, entretanto todos muito abertos a todas as propostas musicais que percorreram aquele palco. Não encontramos posers por lá - se houvessem deveriam ser bem poucos, mas gente que demonstra que a música, e o rock, pertence as suas vidas.
 Enfim, foi muito gratificante subir ao palco nestas condições. Eu já havia dado a minha habitual calibrada na máquina, algumas smirnoff e sempre com um cubo de gelo pra rebater. Com muita cortesia o Carlos, nosso promoteur, dedicou algumas cervejas para a banda, o que serviu para manter o motor mais do que aquecido.

Lá pelas tantas, por volta de 1h00 ou mais subimos ao palco. Cabe um agradecimento especial para o técnico de som, o cara é muito bom, a todo momento fazia seus ajustes e conferia tudo, muito profissional.






O JCM estava lá com as ditas fervendo, o brilho azul intenso das válvulas de saída (logo vai ser hora de trocar as crianças). equipamento plugado, o primeiro acorde de teste. SOM. ok. Nemmo e Dudz ajustando a batera e o baixo. Subitamente some o som da guitarra, o ampli apaga. O técnico troca a tomada. O som volta. É apenas um sinal absoluto para lembrar-nos de nossa missão, o início. Diz a tradição que no princípio eram as não luzes, e o não som. era o Nada. Do nada, surgem os primeiros pratos, os agudos vão se inflitrando como baratas por baixo da porta, um toque aqui outro ali, quando se percebe o ambiente está infestado, o baixo soa grave, monocórdico, como o boom original. é mais sensação que som. Me resta costurar um caminho no meio desse abismo, um fio de melodia exótica, escorrendo como água por entre pedras cortantes. A voz da banda, personificada através do Nemmo, surge, trazendo a declamação poética de abertura. A platéia nos observa. o som cresce. A força tribal dos tambores medievais vem da mão do Dudz, que faz descer sobre todos uma avalanche. ANTONIN! O nosso hino a um dos martires dos novos tempos se faz conhecer nestas plagas. Aplausos tímidos e a expressão de surpresa na face de alguns. A lei da natureza infere que o pior está sempre por vir. E veio. O QUE NÃO PRECISO desce triturando. Aceleração de zero a cem em 2s, Rodas abrem-se como espirais humanas, agito punk no meio do público. Redemoinhos de braços e pernas, aqui e ali, abrindo-se como pústulas em um corpo infestado de varíola. Ou como flores em canteiros iluminados. Sim, é a hora de expurgarmos as infecções de nossa sociedade.
Música após música, a satisfação do público e a integração conosco é crescente. SEM TV arranca aplausos efervescentes, assim como AUTO-SUFICIÊNCIA. ASFIXIA, espalha seu caos, enquanto a população de nosso micro mundo explode em revolta. Lá embaixo, sob aplausos um elemento é retirado pelos seguranças, entre uma música e outra. O show continua, DESSA PRA MELHOR, segue com a versão de pequenas variações que temos feito. O público mais uma vez nos agracia com contentamento. MORFINA, escoa como um antidoto, e a platéia mal suspeita o quão complicada para o vocalista é realizar ao vivo esta canção. harmonia e melodia se contrapõem de forma insana nesta composição, baixo e voz em absolutos opostos devem se fundir, algo encalacrado dentro do vocalista Nemmo realiza a façanha.


 LINHAS CRUZADAS. Chega arrastando-se com seus grilhões.  O público entra no compasso. Como uma onda de ar quente. Como o bafo de uma bebida barata. estamos juntos, em afago duvidoso. Que a relação dure até o último acorde. vamos até o fundo do poço. Até o nono círculo, para depois emergir em um novo sangue, uma nova ressurreição. Na sequência ATSA flerta com uma levada punk, ágil, de recado curto e grosso. DOR surge com seu riff solitário. Espaço. O baterista junta-se ao vocalista. As baquetas descem como mísseis aéreos. A dor profunda so pode ser aliviada com a dor maior, até a libertação do espírito por força de sonoridades perfurantes. Como após uma sessão de sanguessugas na idade média, já estamos mais leves. VIDA CADELA. A pedra fundamental, onde tudo começou. Neste final de ano, ela ganha mais impulso, e em sua libido brutal invade os reconditos da psique. É puro ouro negro extraido de minas que não se encontram as nossas vistas. Repartimos o ouro e o pão com os asseclas presentes. E em regojizante comunhão, deixamos o palco.
É hora de SKYLAB. O mestre do submundo psicótico, assumir. E ele nãos e faz de rogado: cercado por músicos de primeira linha, leva a platéia ao delírio logo com sua mais leve aparição. O corpo delgado, até mesmo frágil,. se mostra um verdadeiro ópio para as massas. Convulsão. SKYLAB é um mix de frenesi subconsciente e flerte. Ele induz. ele vicia. Ele fode. Ele fode e escarra, um verdadeiro cafajeste amado com toda a força pelos curitibanos. 3 garotas saem chorando depois de "Feia pra caralho".Ele mexe, ele revolta, ele faz rir, ele é tudo, menos apático. Sem palavras suas mãos vão em busca da toalha branca. Ele usa o palco para dançar com seus proprios demônios. O show alonga-se durante a madrugada, o povo quer mais e mais. SKYLAB vai até o fim. O fim apra ele é distante. é repleto de excessos. Os músicos estão em perfeita sintonia com sua obra. Vem o agradecimento. O final aproxima-se. SKYLAB se arranca rápido. Só se expõe a luz por tempo necessário. Dentro dos camarins, volta a seu mundo. Ninguém mais o vê. mas não há dúvidas: logo, será anunciado outro local para servir de ninho para seus ovos.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Curitiba 28.11.09 - Boletim de Bordo




Foi uma noite inesquecível para nossa trupe. Aportamos em Curitiba relativamente cedo para o início do show. Pouco antes das 21hs estávamoss perambulando pelo largo da ordem e adjacências. Nossos anfitriões do Opera 1 foram muito cordiais e fizeram todas as honras para nos acolher. pessoas muito simpáticas e organizadas. O simbolo máximo da organização foi ver uma banda gringa, que havia sido convocada a participar de um show emo no mesmo local, antes de nosso evento. Chegaram de van e tentaram dar uma forçadinha usando o roadie deles como testa de ferro, chegaram a subir os equipos (que não eram poucos e tampouco leves), sendo uns dois cabeçotes marshall e mesa boogie, mais o bass amp. tentaram forçar o show, mas a bola deles tinha passado e foi cômico ver os roadies gringos descendo as escadinhas com as malas nas costas. Pareciam jesuitas e suas mulinhas.  mas o mais engraçado foi o emo não acreditando no cheiro do banheiro masculino. Enquanto eu entrava a gazela em passo finos cambaleava de um lado para o outro, achei que estava confuso quanto a direção e perguntei tentando ajudá-lo:
- Bathroom?
- No man, i know, i just want to piss, but, i can´t, this thing stinks a lot, i ...(suspiros) i just can´t!

A hora do show estava chegando, lá em cima, especialmente o Dudz fez um ótimo relacionamento com o pessoal do Skylab, que inclusive foi muito gente fina, em emprestar o JCM900.  Acompanhamos a passagem de som do Skylab, e montamos próximo ao bar nossa barraquinha de souvenirs: a venda cds, t-shirts, e no mercado negro o corpinho do nemmo para acompanhamento de senhoras.

Pão de Hamburguer entrou com um southern rock blueseiro, e 3 guitas no palco! Serviu de estopim para esquentar o povo. Quando os trompas de Falópio assumiram, pareciam já velhos conhecidos da casa, as pessoas curtiram muito suas versões para clássicos garageiros,  rolou cover até de Wander Wildner.

Pouco depois era nossa hora. O que dizer? pasmem... entramos em transe total, canalizamos todas as nossas energias, o som fluiu em torrentes abundantes. Entramos em comunhão com a platéia. Agitação. Espamos.  A partir dai nossa visão lá de cima ja nao fazia mais sentido algum, era puro som, a voz do Nemmo cobrindo o local. Chegamos ao final exaustos e extasiados. A experiência foi tão intensa que tenho certeza, meus colegas de banda ainda estão assimilando. Agradecemos a todos os novos amigos que fizemos por lá, e os que carregamos daqui para lá. Se depender de nós, Curitiba sempre.